sábado, 24 de dezembro de 2016

Cresce cultivo orgânico no Vale do São Francisco

                                                                    Por: Lívia Santos e Mônica Odilia 




Todos os dias, João Soares do Santos sai de sua casa bem cedo e vai para sua horta. Por mais singela que pareça, ela brilha aos olhos do produtor, que há mais de dez anos cultiva hortaliças e temperos com dedicação e nenhum agrotóxico, setor minoritário dentro do agronegócio. Por menor que seja a produção quando comparada as vistosas plantações da agricultura irrigada no Vale, a horta do seu João reluz na caatinga e na mesa de pessoas que optaram por uma alimentação mais saudável. 

                                                      
João Soares dos Santos em sua horta no bairro João Paulo II


Grande parcela da população tem adotado o uso de alimentos orgânicos, optando pela qualidade ao invés da quantidade, aparência ou valor. Muitos preferem a couve, cebolinha, alface ou qualquer outra hortaliça produzida sem agrotóxico na horta de seu João do que comprar de grandes produtores em mercados comuns. A horta comunitária está localizada no João Paulo II, bairro de Juazeiro e existe desde 1987, quando freiras receberam da diocese um terreno e começaram a cultivar e a ensinar a população a produzir sem uso de pesticidas, além de ensinar também como gerar renda através desse tipo de produção, que, anos depois, ficaria conhecida como orgânica. 


Paralelo a isso, o bairro cresceu. Hoje, mais de 30 famílias usam o terreno para plantar hortaliças. Porém, apenas seu João possui o certificado do instituto Chão Vivo, organização catarinense que certifica os produtos como orgânicos, pois isso requer inspeções e um preço alto.    


A iniciativa de conseguir o certificado partiu quando seu João decidiu não se limitar a venda em feiras livres e de porta em porta, como a grande maioria de seus colegas fazem, e se uniu a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF), de Petrolina, para vender em supermercados e em uma feira especificamente orgânica, que acontece todas as sextas-feiras no centro de convenções de Petrolina.                                   

Essa feira reúne oito produtores orgânicos de diferentes locais de Petrolina e Juazeiro, que comercializam hortaliças, tubérculos, frutas e legumes com preços o mais acessível possível para consumidores diversos. A dona de casa Bárbara Andrade superou seu preconceito em relação a orgânicos. Há quatro semanas, descobriu a feira e vem indicando a amigos em suas redes sociais. Bárbara acreditava que alimentos sem agrotóxicos eram caros demais e não faziam tanta diferença na saúde das pessoas. Entretanto, a feira tem preços razoáveis e a qualidade dos alimentos a surpreendeu, além dos reflexos que pôde sentir em sua saúde e de sua família. Ela chegou a dar o exemplo da couve, que dura muito mais na geladeira que a comprada em supermercados e feiras normais, e que por isso não precisa ficar comprando sempre. Sendo assim, o uso de orgânicos acaba sendo um investimento e não um custo extra.
                                                     
 Feira Orgânica no estacionamento:centro de convenções em Petrolina   (Foto: Mônica Odilia)


Segundo o engenheiro agrônomo Caio Bernardo Lima, esta diferença acontece porque na agricultura convencional é oferecido às plantas o necessário para crescer e produzir em larga escala, deixando o aspecto nutritivo em segundo plano. Sem contar que quando aplicados em excesso e sem respeitar os limites do tempo, os agrotóxicos deixam sua marca no sabor e podem causar danos à saúde dos consumidores.                                                               
Além do uso excessivo de inseticidas deixarem resíduos químicos nos alimentos, Caio afirma que a natureza também fica prejudicada. Os fertilizantes sintéticos contaminam os solos, rios e reservas subterrâneas de água.  Já em relação ao preço mais elevado, o cultivo orgânico demanda maior trabalho ao agricultor. Além disso, por ter suas técnicas pouco difundidas, resulta em produtividades inferiores quando comparadas a cultivos convencionais. 

Porém, quando comparado a produtos com pesticidas, a diferença não parece tão grande. A alface custa R$2,00 na feira orgânica, enquanto a tradicional 1,50, já a batata doce custa R$4,00 enquanto em mercados comuns encontramos por até R$3,50. Além disso, outro fator que deve ser salientado é que muitos supermercados aproveitam que a demanda de alimentos mais saudáveis está crescendo para aumentar em demasia o valor de tais produtos.                                                                                                                                                                 

União dos agricultores a cooperativas.


Cooperativas especializadas têm estimulado a produção, o consumo e a comercialização dos alimentos orgânicos. A Codevasf de Petrolina indica que 17 produtores estão integrados na cooperativa e já receberam certificados, e que até o fim do ano esse número deve dobrar. Além disso, 30 outros agricultores plantam e vendem frutas orgânicas com o apoio do Instituto da Pequena Agropecuária  (IRPAA), uma ONG que trabalha com desenvolvimento sustentável e que integra um projeto de incentivo a produção de orgânicos há 5 anos.                                                                                                                                           
Além da feira orgânica do Centro de Convenções podem-se encontrar frutas e verduras orgânicas na orla de Juazeiro e no SESI de Petrolina, podendo-se comprar hortaliças e temperos orgânicos também no campus de agronomia da UNEB de Juazeiro.





                           
A agricultura familiar gerando renda                             


Mas para que a cultura do orgânico continue a crescer, além de mobilizar as pessoas para o cuidado com a saúde e com o meio ambiente, é necessário o incentivo aos produtores e o ensino das técnicas de cultivo com defensivos naturais.                                                                                               
  Estes trabalham no âmbito do equilíbrio entre insetos benéficos e extratos de plantas utilizados como repelentes, além da variedade de culturas, pois quanto maior a diversidade de espécies, menor será a necessidade de medidas de controle, aproximando os cultivos ao que ocorre de fato na natureza.                                                                                                                     
   Para isso, não é necessário desafiar o milionário agronegócio, que criou um ciclo capitalista com sementes geneticamente modificadas dependentes de pesticidas, é preciso apenas difundir e ensinar os pequenos produtores como funciona o cultivo orgânico.                                                                                               

  Foi isso que aconteceu com Roberto Alves, que há 3 meses vende cenouras, batatas doces, mandiocas e outras coisas na feira orgânica em Petrolina. Ele trabalha em família, como sua mãe e irmão no bairro João de Deus e diz que o técnico agrônomo o ensinou a plantar seus vegetais alternadamente e a usar os defensivos naturais, além de o incetivar a se unir a cooperativa e a conseguir o selo Chão Vivo, dando a ele e a sua família uma nova fonte de renda, com a consciência tranquila.


Mônica Odilia e Lívia Santos são estudantes de Jornalismo em Multimeios, na UNEB





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