quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Um olhar sobre o outro

Por Maiara Santos 

Às 6 da manhã, ela já está pronta para mais uma de suas caminhadas na lagoa do Calú, espaço público localizado próximo a sua residência, no centro de Juazeiro. Na mão direita, a sacola com a comida para alimentar os gansos; na outra, duas garrafas pet com água para molhar as plantas. Para Dona Noemi Lívio, que prefere ser chamada de tia Noêmia, é um prazer cumprir essas tarefas todos os dias. 

Sempre andando e cantarolando pelo Calú, ela cumprimenta vizinhos e desconhecidos que compartilham a área de lazer, ao mesmo tempo em que oferece comida aos gansos. Aos poucos, molha as plantas uma a uma. Noêmia diz que recentemente, tem outra pessoa para dividir a tarefa, pois a prefeitura contratou um jardineiro. “Jardineiro esse bem estressado. Só vive reclamando da vida e procurando confusão com os que visitam o espaço”.
 

Atitude bem diferente de Dona Noêmia que faz tudo com cuidado, dedicação e alegria. Terminada a sua tarefa matinal, ela faz alongamento para aquecer o corpo e enfrentar os seus afazeres do dia-a-dia. No percurso de volta pra casa, cumprimenta um e outro vizinho que estão a varrer suas portas. Ao chegar a casa, começa a preparar o almoço para a família. O dia será longo. “Hoje é dia de ir pra orla, alimentar a quem precisa”, diz tia Noêmia.

Foto: Maiara Santos

Há quase 30 anos, Noêmia se dedica ao oficio de alimentar a quem precisa. Entre risos tímidos, ela responde que recebeu o “Chamado” de ajudar a quem precisa. “Morava ainda em Paulo Afonso, quando, um dia olhando para uns pés de coqueiro, dizia em minha mente que nunca sairia daquele lugar, por ser a casa bem aconchegante e rodeada de arvores. Mas chegou um tempo em que as coisas começaram a ficar difíceis na região, meu esposo viu uma oportunidade e aí resolvemos nos mudar para cá em busca de novas oportunidades”. 

Ao chegar em Juazeiro, ela sentiu a necessidade de se doar. Foi aí que tia Noêmia começou a visitar o centro de recuperações Crevida e a preparar comida para alimentar os necessitados. 
Durante o preparo do almoço, ela grita com um menino, fala com o cachorro, faz carinho nos gatos e atende a porta: “minha filha, isso aqui é todo dia. Esse mês a casa fica ainda mais movimentada, porque minha filha vem passar as férias comigo, aproveitando que os meus netos ficam de férias da escola. Aí, é aquela festa, é menino por todo lugar”.

Já perto das 13h da tarde, ela entra em contato com a equipe que a ajuda no preparo dos alimentos que são comprados por eles mesmos. Quando é possível, tem feijão, arroz, salsicha, calabresa e suco de fruta. Quando o dinheiro falta, cachorro quente. Entre as ajudantes, está a filha Elineide, o braço direito. Tia Noêmia diz que essa rotina era diária, mas Elineide adoeceu e tiveram que diminuir os dias de entrega de alimentos.


Evangélica, tia Noêmia acredita na recuperação de pessoas que estão marginalizadas pela sociedade, pois todos merecem uma segunda chance. Se ela tem condição de repartir o pão, porque não dividir com quem tem necessidade? 

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