Após o período de quatro anos, Haroldo se casou e decidiu adentrar em outra área. “Eu sempre tive interesse em agronomia”, explica. E, a partir disso, foi para Itália onde se tornou agrônomo pela Universidade de Agricultura, em Viena. Em seguida, trabalhou em uma agência internacional de ajuda, na Alemanha, por dois anos. Mesmo com sua estadia na Europa, revela que sempre quis voltar para o Brasil. Em seu retorno ao país, conta que fez a segunda graduação em Agronomia na Faculdade de Agronomia do Médio São Francisco, em Juazeiro. Desde então, nunca mais se mudou da região.
quarta-feira, 15 de março de 2017
'Me apaixonei pela terra aqui'
Por: Ingryd Hayara
Foto: Ingryd Hayara
Enquanto a estrada de
terra batida seguia, uma placa a esquerda anunciava a chegada ao Centro de
Formação D. José Rodrigues. Do portão, dava para avistar, ao longe, a figura de
Haroldo em pé, conversando com alguns moradores do local enquanto mantinha os
olhos na entrada.
Ao me aproximar, me
recebe com um abraço e um pedido de desculpa por ter esquecido a nossa
entrevista. Logo após, me convida para sentar em uma mesa de cimento há poucos
metros dali. No caminho, me apresenta Fred, um cachorro que o acompanhava
fielmente. “Os meninos da república o adotaram há quatro anos e, desde então,
segue conosco”, conta.
Ao sentarmos na mesa,
contou da árvore que se erguia sobre o banco com os galhos secos, sem nenhuma
folha aparente. Era o umbuzeiro, planta típica da Caatinga, que perde as folhas
durante o período sem chuva para se proteger. O umbuzeiro, segundo Haroldo,
forma bolsas nas raízes que armazenam água para o período de estiagem, se
assemelhando às cisternas naturais.
O sistema natural de
captação do umbuzeiro inspira a população rural a desenvolver tecnologias
semelhantes de armazenamento da água. Através desses procedimentos, é possível
viabilizar a promoção da convivência com o semiárido, principal meta defendida
pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), sediado em
Juazeiro – BA, na qual Haroldo Schistek, de 74 anos, é idealizador e atual presidente.
Com olhos azuis e sotaque
acentuado, Haroldo chegou ao Brasil no início dos anos 70. De origem austríaca,
veio ao país através da Igreja Católica, com a missão de padre. Os 10 dias de
viagem de navio entre a Europa e a América do Sul foram importantes para,
gradativamente, deixar o clima nevado de Gênova e se acostumar ao verão carioca,
relembra.
Em pouco tempo, Haroldo já
estava na Bahia para trabalhar na antiga Diocese de Barra, localizada em
Barreiras, que pretendia desenvolver projetos sociais para o povo. Mesmo
que na época não estivesse claro os aspectos que geravam a pobreza, a instituição
tinha consciência de que os povoados pobres apenas deixariam sua condição caso
se organizassem.
Foi nessa trajetória
de pároco que se encontrou com Dom José Rodrigues, conhecido como o “bispo dos
oprimidos”. “O trabalho dele se encaixava exatamente na minha ideia de ajudar”,
explica.
Após o período de quatro anos, Haroldo se casou e decidiu adentrar em outra área. “Eu sempre tive interesse em agronomia”, explica. E, a partir disso, foi para Itália onde se tornou agrônomo pela Universidade de Agricultura, em Viena. Em seguida, trabalhou em uma agência internacional de ajuda, na Alemanha, por dois anos. Mesmo com sua estadia na Europa, revela que sempre quis voltar para o Brasil. Em seu retorno ao país, conta que fez a segunda graduação em Agronomia na Faculdade de Agronomia do Médio São Francisco, em Juazeiro. Desde então, nunca mais se mudou da região.
Após o terminar da
faculdade, Haroldo começou a trabalhar para diocese onde tinha espaço para
divulgar ideias sobre a agricultura alternativa, modelo que pensava os métodos
agrícolas sem o uso de insumos químicos ou mecanização. A primeira oportunidade
de estar em contato com agricultores para falar sobre a agricultura alternativa
foi em Pilão Arcado–BA, por convite do padre da paróquia de lá. A partir disso, as
formações ficaram mais recorrentes e ele teve a necessidade de construir um núcleo
de formação que pudesse abranger esses territórios.
“O conceito da
convivência com o Semiárido não foi inventado no escritório ou em âmbito
acadêmico” afirma, enquanto me olha para confirmar que eu estava prestando atenção.
“Isso foi força das circunstâncias”.
Haroldo relembra que assim que terminou a faculdade, percebeu que plantio de
algumas monoculturas, como o milho e o feijão, não vingavam, enquanto plantas
típicas da caatinga permaneciam verdes “Na verdade, não é uma seca que está
acontecendo, mas uma evidência do nosso comportamento errado em relação à
natureza”, concluiu.
Dessa forma, em 1990,
fundou o IRPAA com a proposta de tornar acessível aos agricultores a proposta
de convivência com o semiárido. Esse conhecimento é transmitido valorizando o
saber popular. Haroldo defende que é preciso que o povo compreenda e, a partir
disso, adapte à realidade da comunidade em que vive. “Depois que entendem, eles
mesmos podem inventar o jeito deles de conviver com o semiárido”, explica.
Após adotar o país, Haroldo
compreendeu as diversidades e particularidades do semiárido nordestino. Ao ser
questionado porque escolheu o Brasil, responde: “Ah, me apaixonei pela terra
aqui. Gostei tanto que decidi ficar no Brasil”, finaliza.
Ingryd Hayara é estudante de Jornalismo em Multimeios, na UNEB
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