quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Instituições auxiliam pacientes com câncer no Vale do São Francisco

Por Gislaine Milca


Há quatro anos, Katussia Almeida é voluntária do Instituto de Prevenção Ivete Sangalo, em Juazeiro (BA), onde ampara muitas mulheres que chegam ansiosas e inseguras para fazer a mamografia – chamada por elas de aperto amigo. A tarefa de Katussia é de interagir, brincar, conversar. Tudo isto faz com que elas se sintam mais fortes. 

Katussia se dedicou a cuidar de muitas mulheres sem nem saber que, no futuro, precisaria enfrentar um desafio semelhante. No dia 29 Setembro de 2016, às 14h36min - ela sabe a hora exata - foi diagnosticada com Carcinoma ductal infiltrante -  forma mais comum de câncer de mama. 


Assim como Katussia, o Instituto já atendeu 6.187 mulheres até outubro deste ano para fazer o exame médico, sem contabilizar os 5.266 atendimentos realizados na Unidade Móvel, carreta que circula pelos municípios baianos. Em cada cidade, o objetivo a é atender de 80 a 100% das mulheres residentes nos locais. Cumprindo a meta, a carreta segue para a próxima cidade. 


Katussia considera o Instituto de Prevenção Ivete Sangalo como um compromisso, não só com o social, mas com a saúde das mulheres. “Eu sinto que, às vezes, a nossa região não entende a necessidade de acolher. Mas você percebe o comprometimento que todos ali têm com a vida, é uma equipe humanizada e eles fazem muito além do trabalho deles. O Ivete é uma referência, é o maior presente para nós da região e municípios vizinhos.”


Foto: Gislaine Milca


Instituição filantrópica, sem fins lucrativos, o instituto vive através de doações, suficientes para pagamento dos salários dos funcionários, lanches oferecidos aos pacientes, bem como manutenção da infraestrutura. São arrecadados dinheiro com bazares e brindes de empresas de cosméticos, além de incentivo do Hospital do Câncer de Barretos.

Filial da unidade hospital de Barretos, o instituo presta assistência e atendimento a mulheres com idade de 40 a 69 anos para realizarem a mamografia. Caso haja necessidade, novos exames complementares são feitos.   

As mulheres atendidas são de vários municípios como Juazeiro, Casa Nova, Sento Sé, Campo Alegre de Lourdes, Pilão Arcado, Remanso, Sobradinho, Uauá e Curaçá. O instituto consegue realizar, por dia, 50 exames de mamografia, de segunda a sexta.

O exame ajuda a prevenir a incidência de câncer, nome dado a um conjunto de doenças que têm, em comum, o crescimento desordenado de células que invadem órgãos e tecidos e podem se espalhar para outras partes do corpo, processo chamado de metástase. A estimativa para o Brasil, no biênio 2016-2017, aponta a ocorrência de cerca de 600 mil  novos casos de câncer.

Para acompanhar essas demandas, outras instituições auxiliam no acolhimento, cuidado e tratamento de pacientes oncológicos no Vale do São Francisco. São elas o Centro de Oncologia Dr. Muccini (Ceonco), unidade da Associação Petrolinense de Amparo à Maternidade e à Infância (APAMI), o Movimento de Combate ao Câncer (MCC) e a Casa de Apoio Cleriane Tenório, todos em Petrolina.


Centro de Oncologia Dr. Muccini 


 Centro de Oncologia Dr. Muccini 
Foto: Felipe Evangelista 

Criado em 1998, o Centro de Oncologia Dr. Muccini (CEONCO) oferece atendimento médico especializado gratuito para pessoas com câncer. 
No centro são oferecidos sala de preparo, consultórios médicos, farmácia e salas de quimioterapia. A única etapa do procedimento médico que ainda não é realizada pela unidade é o tratamento com radioterapia - método capaz de destruir células tumorais circulantes. Nestes casos, o paciente é encaminhado a outros centros em Recife (PE) e Salvador (BA). Em média, 1.300 pacientes são atendidos mensalmente.

Segundo dados do Centro de Oncologia, até outubro de 2016, foram acompanhados 7.170 pacientes de Petrolina em tratamento.

Movimento De Combate Ao Câncer (MCC)

Entidade sem fins lucrativos e parceiro da APAMI, o MCC foi criado em 2000 para ajudar no tratamento de pessoas com câncer. Através do MCC, as famílias são assistidas e têm garantido parte dos medicamentos que não são ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para o tratamento oncológico.    

O MCC é composto por senhoras que realizam trabalhos manuais e os vendem em eventos, como feiras de artesanato e bazares. Realizam também a tradicional festa junina "Forró do Beco" - que no ano passado não aconteceu. Com as doações, o dinheiro arrecadado consegue ajudar a manter por um ano as medicações auxiliares no tratamento contra cânceres.

Entre as doações recebidas, está a de Jaquelyne Costa, que tem uma relação com o MCC desde 2011, quando sua mãe, Alcineide, foi acometida por um câncer renal. A sua mãe iniciou um tratamento no Centro de Oncologia da APAMI, e recebeu durante o tratamento apoio com as medicações auxiliares. 

Jornalista e escritora, Jaquelyne lançou, no final de novembro do ano passado, o livro Oratório da Moça que sente Saudade. São 53 poesias e textos, inspirados na sua relação com a mãe Alcineide e dedicado a ela, vítima de câncer renal em outubro de 2012.  

Foto: Arquivo Pessoal

A poetisa relata que a decisão de doar toda a renda da venda do livro tem relação com o que sua mãe dizia, que, se ficasse curada, continuaria colaborando com o MCC. Como para a mãe não foi possível, Jaquelyne abraçou a causa. “Decidi editar o livro com os poemas que escrevi durante o tratamento dela e após seu falecimento, já que a poesia foi também uma terapia para mim durante esse tempo muito difícil de minha vida. Então, decidi que o livro seria dedicado para minha mãe e toda a verba arrecadada destinada ao MCC.” 

O ato da doação significa muito para Jaquelyne. Para ela, a doação ainda é um pequeno grão, mas é a semente que deseja plantar nas pessoas, para que possam colaborar com o MCC e o CEONCO pelo simples fato de ajudar. “Espero do fundo do meu coração que as pessoas possam ser sensibilizadas e passem a abraçar essa causa, que é de todos,” afirma.

Casa De Apoio Cleriane Tenório  

Dona Paulina Tenório há muito tempo conversava com sua irmã sobre contribuir no auxílio às pessoas diagnosticadas com câncer e seus familiares. Cristã, sempre fazia visitas aos hospitais e, de vez em quando, se deparava com uma quantidade enorme de pessoas que vinham de outros lugares ao redor do Vale do São Francisco. 

Quando Cleriane Tenório, filha de Paulina, foi diagnosticada com câncer de mama, aos 37 anos, a família vivenciou a realidade bem de perto. “Uma vez estava com ela internada quando chegou alguém de Santa Maria da Boa Vista, que não tinha onde ficar. Minha filha viu e disse que precisávamos providenciar esta casa”, conta Paulina. 

Depois que sua filha faleceu, a vontade de ter a casa de apoio ficou ainda mais forte. A dificuldade, para dona Paulina, era conseguir o local. Conseguiram uma casa que foi doada pela Igreja Adventista. Em pouco tempo, com ajuda das pessoas, logo conseguiram finalizar a casa de apoio. Nos primeiros meses deste ano, a casa começou a receber pacientes e familiares.    

Enquanto não tem demanda, a casa de apoio permanece fechada. Dona Paulina comunicou ao Centro de Oncologia (Ceonco) que a residência está sempre disponível. Quando os pacientes chegam no Centro, é feito uma triagem, onde descobrem suas necessidade e de seus familiares que os acompanham. Se estes não tiverem condições de se manterem na cidade, são logo encaminhados para a Casa Cleriane Tenório. 

Assim que são encaminhados, as voluntárias entregam a chave do local para que possam ficar à vontade. A casa é completa, tem quatro quartos e sempre é mantida uma cesta básica, caso haja alguma necessidade. Os atendidos podem ficar o tempo que for necessário, enquanto durarem as sessões do tratamento. 




Foto: Felipe Evangelista 

Atualmente, são cinco voluntárias, contando com Dona Paulina. A manutenção da Casa é feita na base da união, solidariedade e voluntariado. Para pagar as contas, elas se reúnem, recebem ajuda de igrejas e também fazem feira da pechincha para arrecadar dinheiro. 

Ao ser perguntada sobre a importância do trabalho que faz para ajudar as pessoas, Dona Paulina responde sorrindo: “Eita, mulher, e dá pra gente medir?”. Ela declara que é o mínimo que se pode fazer por alguém que luta contra o câncer.  “A gente sabe que estas pessoas, principalmente do interior, com um familiar passando por isto, já vêm pela misericórdia de Deus. Aí, chegam aqui e não têm onde ficar. Poder ter condição de fazer isso é o mínimo, mas é gratificante. Eu não sei se a gente dá mais ou se recebe mais.” 

Para Dona Paulina, a sensação é de levar um pouco de felicidade a quem sofre tanto. 


Leia aqui o perfil de Katussia Almeida.


Gislaine Milca é estudante de Jornalismo em Multimeios, na UNEB

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