quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Grupos defendem intervenção militar no Brasil


Por Robson Gomes Lima
            
No ano passado, aconteceram manifestações no Brasil pedindo a intervenção militar e acusando o país de ser uma república comunista. Em novembro, um grupo invadiu a Câmara dos Deputados para reivindicar que os militares assumissem o poder da administração federal como solução para o fim da corrupção e dos privilégios para políticos. 

Pesquisa do Instituto Vox Populi demonstra que o número de brasileiros favoráveis a uma intervenção militar subiu de 36% em 2012 para 48% em 2014. Um desses brasileiros é o analista desenvolvedor de sistemas, Adenilson Gonçalves dos Santos, morador de Juazeiro, Bahia. Ele acredita que as forças armadas podem restabelecer a ordem democrática em situações de anormalidade e de crise institucional, utilizando o mesmo discurso que motivou a queda de João Goulart há 52 anos, quando foi instalado o regime militar no Brasil. “Nas circunstâncias em que o país atravessa com a usurpação dos poderes, privilégios e impunidade aos nossos representantes políticos, a corrupção institucionalizada e a feroz crise política e econômica que reflete diretamente na vida dos brasileiros, sobretudo nos mais vulneráveis, a atuação das Forças Armadas como instituição responsável pela manutenção da ordem nacional se faz necessária”, declara Adenilson.

A petrolinense Rakneide Gomes também acredita que os militares trariam ordem ao país tanto social quanto política. "Está tudo muito liberado! O Brasil precisa de ordem. A corrupção entre os políticos está muito grande, e acredito que não havia isso na época dos militares nem morte e roubo como nos dias de hoje. A impunidade está muito grande", declara. 

O sociólogo Rogério de Souza Bispo explica que esse discurso favorável à intervenção militar é decorrente de uma insatisfação nacional com os atuais governantes. Muitos acreditam que a segurança estaria garantida com os militares no poder. “As Forças Armadas são responsáveis pela segurança nas regiões de fronteiras, em situações de guerra. É estranho pensar que, por mais que essa instituição seja hierarquicamente bem organizada, possa ter o papel de administrar a nação”, questiona Bispo, que também é professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), campus Juazeiro. Ele ressalta ainda que a corrupção começou com a chegada dos portugueses no Brasil. Não é uma novidade. 



Professor e Sociólogo Rogério de Souza Bispo
Foto: Robson Gomes Lima

Selma Alves nasceu em 1969, período em que estava instaurado o Ato Institucional Nº 5, momento mais difícil para a democracia no país. O AI-5 aboliu o habeas corpus, proibiu manifestações populares, impôs censura para jornais, revistas, peças de teatro e músicas. Ela passou adolescência e juventude sob o regime militar e elogia a forma como o Brasil era administrado. “Eu acho que uma intervenção ajudaria com a disciplina, segurança... As construções como prédios e hidrelétricas eram de qualidade e por muito menos do que se gasta hoje em dia. Hoje, você não pode sentar na calçada por medo de assalto. Antes, não havia isso", explica. Entretanto, critica as torturas realizadas pelos próprios militares nesse período.

O almoxarife Nyedson Pablo Amaro diz que a administração exercida pelo exército é um ponto a ser observado. Para ele, os militares trabalham pelo coletivo, não pelo individual. “Quando os militares governavam o Brasil não era uma potência, mas as coisas andavam. Hoje há dinheiro, mas não existe um boa administração”.

Quando questionado a respeito dos crimes cometidos no regime militar e sobre as torturas que atingiram as mais diversas classes sociais, Nyedson acredita que esses crimes não haveria nos dias de hoje. “Tudo mudou. Se houvesse tortura, outros países entrariam em conflito com o nosso e tomariam o poder. Creio que o objetivo militar é melhorar a segurança e as áreas danificadas no Brasil, que hoje é dominado pela corrupção".

Diversos grupos em mídias sociais como o Facebook pedem a volta do regime militar no Brasil. Páginas como a “Intervenção Militar” e a “Conacc – Intervenção Militar Já” possuem mais de 80 mil seguidores, o que demonstra o aumento do conservadorismo entre variadas faixas etárias. Apesar desses grupos se manifestarem em redes sociais e nos meios de comunicação favoráveis a intervenção militar, o sociólogo Rogério Bispo afirma que os militares possuem formação administrativa, mas não teriam condições de assumir um papel de governança complexa, como um governo. "Com toda essa política de interesses que há na nossa sociedade, haveria um risco deles penderem para um determinado lado, e não é favorável pensar nessa ideia. A democracia é ainda a melhor forma de melhorar a situação do país. Ela é uma conquista”, argumenta Rogério.


Robson Gomes Lima é estudante de Jornalismo em Multimeios, na UNEB. 

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