segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Uma ilha na vida de um povo

                                                Por Márcio Reges

Josiel Rodrigues trabalha nos finais de semana na barca São Francisco VI, transportando turistas para a ilha do Rodeadouro, ponto turístico localizado entre as cidades de Juazeiro, na Bahia, e Petrolina, em Pernambuco. Com sua beleza exuberante, a ilha atrai visitantes de várias regiões do país. A proximidade com a comunidade do Rodeadouro, distante 13 quilômetros do centro de Juazeiro, deu nome a ilha.

foto: Márcio Reges

Mais antiga que o município de Juazeiro, a comunidade foi habitada por negros e existem vários outros povoados de origem quilombola na região. Para a líder comunitária Dona Ovídia Isabel de Sena, o nome Rodeadouro surgiu porque, para chegar em terra firme, as embarcações precisavam dar várias voltas, ou seja, tinham que arrodear.

Além da Ilha como opção de lazer, o futebol é bem presente na vida da população, tem equipes infantis, adulta masculina e feminina. Nos dias de jogos, o povoado fica bastante movimentado. A tradição cultural das rodas de São Gonçalo, no passado realizada várias vezes ao ano, diminuíram bastante. Sobrevive o cordão de Alimentadeiras de Almas e outro de Penitentes, que saem no período da quaresma:“É de arrepiar quando o guia bate a matraca, cantando os benditos com aquele vozeirão”; relata a professora Maria de Fátima Sena, que se preocupa com a falta de membros no grupo, o que pode ameaçar o cordão.


Manifestação muito presente na comunidade é o Samba de Véio, considerado um símbolo do Rodeadouro. Não se sabe ao certo quando começou. Segundo os moradores mais antigos, sua origem surgiu porque os velhos não tinham nenhum meio de se divertir. Hoje, tradicionalmente no dia 6 de janeiro, eles visitam as casas em comemoração ao Dia de Reis, resolveram acrescentar o samba, utilizando os instrumentos de percussão. Dona Ovídia afirma que o centenário Samba de Veio do Rodeadouro iniciou antes dos praticantes da manifestação musical da ilha vizinha, a do Massangano, que se tornou mais conhecido. 

No início, apenas os velhos participavam e isso fez com que o samba desaparecesse por um tempo. Aos poucos, o samba foi atraindo o público jovem. Hoje, no grupo, mais da metade dos integrantes são crianças e adolescentes que contribuem para que, a cada dia, essa tradição se mantenha forte.

A comunidade vive da agricultura irrigada e da piscicultura e do turismo, diretamente ligado a existência da ilha do Rodeadouro. Hoje, cerca de 70% dos moradores sobrevivem direta e indiretamente da exploração turística da ilha.

Turismo na ilha

foto: Márcio Reges


Com aproximadamente 3 km de extensão, a ilha do Rodeadouro concentra número significativo de chácaras particulares. Apenas uma pequena parte da ilha é de livre acesso aos frequentadores. A exploração comercial e turística começou com Manoel Rodrigues da Silva, popularmente conhecido como Seu Né, muito popular na comunidade do Rodeadouro e da ilha.

Tudo começou quando o grupo de amigos se reuniu na ilha para beber e comer peixe, outros chegavam a acampar. Seu Né relata que os verdadeiros fundadores da ilha do Rodeadouro, além dele, foram Antônio Marinho; Gaúcho (seu Nogara ) e Seu Veto. Depois, Seu Né teve a ideia de passar a vender bebidas ali mesmo na areia para seus amigos e a tripulação das embarcações que trafegavam no rio.

Com o apoio das equipes do Caiano e América de Petrolina, e Olaria e Veneza de Juazeiro, que passaram a treinar na ilha, o empreendimento passou a ser conhecido. Depois, foram surgindo as barracas e começando a estruturação comercial da ilha. Hoje, são 35 barracas que trazem comodidade aos visitantes.

A travessia dos passageiros era realizada por pequenas embarcações que levavam em torno de 15 passageiros. Os donos disputavam os passageiros de forma desordenada, às vezes ocorriam atrito entre eles. Com o passar do tempo, criou-se a associação dos barqueiros onde construíram quatro embarcações que transportam mais de 300 pessoas. Na temporada do verão, cerca de 8 mil pessoas visitam a ilha nos finais de semana.

O rio são Francisco passa por sérios problemas, como o assoreamento. Em frente a ilha, do lado de Juazeiro, formou-se uma ilhota que atrapalha o banho e a visão dos frequentadores. O local de transbordo também sofre constantes mudanças, porque são formados bancos de areia que atrapalham a navegação. Para Seu Né, se o assoreamento avançar, o turismo pode ser prejudicado: “Temos que cuidar do rio, ele é a nossa maior riqueza”.

A morte do rio São Francisco causaria vários estragos, dentre eles a morte da ilha, a morte da comunidade do Rodeadouro. 

                    
 Márcio Régis é estudante de Jornalismo em Multimeios, na UNEB.


0 comentários:

Postar um comentário