Pablo Luan
Sintomas de ansiedade, exaustão física e mental provocados pelo excesso de atividades acadêmicas intensivas têm levado estudantes universitários a adquirirem doenças psicológicas. Foi o que aconteceu com a estudante Hatinna Soares Brasil, durante a sua graduação em Psicologia. Ela cursava o 3º período quando a pressão psicológica, sobrecarga, estresse acadêmico e cobranças começaram a atrapalhar a sua vida acadêmica.
A pressão psicológica e estresse acadêmico fizeram a jovem desistir do curso. Ela conta que se frustrou e sentia-se depressiva. A jovem não quis mais saber da psicologia, nem dos colegas de turma e se manteve afastada da faculdade.
“Ninguém imagina o quanto é desafiador e o quanto foi difícil trilhar outro caminho que não fosse aquilo que acreditava pra mim, como a psicologia”, confessa. No dia que retornou a faculdade para buscar o histórico para se matricular em outra universidade, ela chorou lembrando de todo transtorno que tinha passado. Hoje, Hatinna cursa o 5º período de direito na Uneb e diz que é um desafio quando você já carrega na sua história a desistência de outro curso. Porem está sempre atenda aos seus comportamentos, tomando cuidado para não repetir os antigos hábitos do outro curso e tentar superar-se a cada dia, principalmente quando o assunto é medo e frustrações.
“A minha meta é tentar ser melhor, pra mim, por mim. É isso que me impulsiona pra frente, é isso que não me faz desistir,” afirma.
Para a especialista em psicanálise Andréa Cristina da Silva Santos, a ansiedade é um sentimento comum que o ser humano adquire no período dos estudos, e isso pode ser normal. Mas o caso começa a se agravar quando acontecem mudanças no comportamento. Os estudantes evitam sair de casa, prejudicando-se também no cotidiano. Todo esse estresse pode causar depressão, e pode gerar consequências graves, como o suicídio.
Essa ansiedade muitas vezes já vem do vestibular. Foi o que aconteceu com a estudante Melissa Aguiar, que passou cinco anos estudando em cursinhos para conseguir a sua aprovação em medicina, um dos cursos mais concorridos do país. Ela conta que foram anos de angústia. “Quanto mais o tempo passa, mais aumenta a fragilidade psicológica, já que a sensação de fracasso vai se tornando ainda mais forte na medida que meus antigos colegas estavam evoluindo profissionalmente, enquanto eu me sentia parada no tempo”, relembra.
Quando Melissa conseguiu finalmente ingressar na faculdade, o que a incomodava, era a sobrecarga de trabalhos, principalmente por ser um curso integral, e isso reduzia ainda mais o tempo para estudar ou descansar. No primeiro período, algumas semanas com provas todos os dias e,
no último dia de provas, tinha certeza que o rendimento não seria tão bom, devido a toda exaustão. Melissa relata situações de colegas que precisam tomar remédio para controlar a ansiedade e o nervosismo depois de algumas provas.
Para a psicanalista, quando o estudante começa a se sentir prejudicado com a ansiedade em excesso, e admite que necessita de ajuda, é o momento em que se deve procurar um profissional. Andréa relata também que esse estudante pode tentar se controlar, articulando o tempo, dormindo corretamente, e tentando manter o domínio do estresse e ansiedade através do autoconhecimento.
Centros de apoio:
Atentando aos riscos que o excesso de ansiedade, algumas universidades buscam formas de apoio e suporte psicológico aos alunos que apresentam os sintomas. Até por perceberem que casos assim, atingem negativamente o desempenho das atividades acadêmicas.
No campus sede da Univasf, em Petrolina, existe o centro de estudo e prática em psicologia ,CEPPSI, inaugurado em 2009. Sua estrutura serve para receber diversos usuários que precisam de um acompanhamento psicológico, além de servir para que os graduandos de psicologia desenvolvam habilidades na área. O centro de atendimento oferece também consultoria aos diversos setores da sociedade, e um serviço psicológico com a finalidade de melhorar a qualidade de vida da comunidade em geral.
O CEPPSI disponibiliza também plantões às quintas-feiras, onde estudantes podem procurar esse apoio para lidar com os desafios da vida acadêmica.
Na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), existe o projeto Corpoética, coordenado pelo professor João José Borges que oferece aulas de yoga para estudantes, professores e funcionários do departamento. É uma terapia mental, corporal e de autoconhecimento, dando também importância às tensões corporais que são consequências da rotina estressante na universidade. As aulas de yoga acontecem nas quartas-feiras, e as técnicas e práticas no cuidado da saúde nas quintas.
João José chama atenção à necessidade de respeito e zelo pelo próprio corpo. Corpo não só físico, mas também ao emocional e mental. Ele relata que esse respeito tem sido negligenciado nas práticas acadêmicas. A obsessão pela produtividade a todo custo pode produzir adoecimento. João tem percebido frequentemente um adoecimento generalizado, que toma conta de professores e estudantes. E fala que embora o êxito implique esses desgastes, alguns cuidados podem ser realizados como: atentar a forma de respiração, a posição da coluna ao sentar, tensão nos ombros. Toda essa consciência corporal pode ajudar na administração desse estresse.
Além disso, é importante prezar pelo cuidado nas relações humanas, no tratar o outro, criar uma atmosfera de empatia, respeito, gentileza, cordialidade. E mesmo quando precisemos em certos momentos fazer o uso de crítica e defender o nosso ponto de vista, que são coisas que acontecem na academia, devemos saber fazer isso com gentileza, pois cuidar do emocional é essencial. Afirma o professor.
Não são fáceis os métodos para resolverem o estresse. Segundo os especialistas, cabe aos estudantes uma mudança de hábito, a busca do autocontrole, e exercícios mentais para uma vida acadêmica mais saudável. Essa qualidade de vida é muito importante no desenvolvimento do curso, e podem ajudar esses universitários a trilharem seus caminhos na faculdade e para além dela.
Pablo Luan é estudante de Jornalismo em Multimeios, na UNEB.
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