quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Salve o Velho, Salve o Chico


                 


  


Cansado de ver o rio sofrer, o engenheiro ambiental André Loiola decidiu fazer algo. Enviou mensagens para o grupo de amigos no whatsapp, incentivando-os a fazerem um final de semana diferente: cair na água sem arpão e mergulhar com a intenção de tirar do rio o lixo que sempre percebiam, ao invés de realizarem a pesca esportiva.

Despretensiosamente, no dia 15 de outubro deste ano, o grupo de aproximadamente 11 mergulhadores seguiu para o rio e iniciou os mergulhos, próximo a captação de água do SAAE, situada atrás da Univasf em direção ao ponto dos caiaques na Orla II em Juazeiro – BA. Já na primeira ação, eles recolheram em torno de uma tonelada de lixo: garrafas pets, pneu, plásticos, tecidos, tampa de fogão, tanque de combustível, porta de metal, placa de carro, dentadura, banheira e, o mais impressionante de todos, o mictório.     

André Loiola
Foto: Ângela Monteclaro
Depois das surpresas negativas, o grupo decidiu planejar uma segunda ação para o dia 29 de outubro. Durante a reunião, o grupo batizou as ações de Salve Chico e outros militantes se juntaram a causa, como o grupo Eco Rio. Nesse dia, 43 mergulhadores entraram na água, e outros auxiliaram nos barcos de apoio e nos caiaques.

Em torno de 11 horas de mergulho, foi retirado uma faixa de seis toneladas de lixo em um trecho bem curto, que não ultrapassou de oito hectares, apenas na orla de Juazeiro. “As pessoas e o poder público hoje são inertes a essa causa ambiental em favor do rio são Francisco”, afirma André.

O movimento Salve Chico é sem fim lucrativo, desenvolvido por voluntários e não tem nenhum tipo de financiamento político ou empresarial. André conta que nenhum órgão público se manifestou até o momento oferecendo ajuda, apoio ou incentivo. Todo apoio vem da sociedade civil. O Rotary Clube de Juazeiro disponibilizou recursos para financiar o projeto de monitoramento da água e três empresas de caiaques cederam equipamentos para o apoio.

Ao todo, foram realizadas até o momento quatro ações. As próximas estão previstas apenas para julho ou agosto do ano que vem, por causa da qualidade da água que impede o mergulho. “A água está em um período turvo e leitoso”, explica André. Porém, já foram pensadas novas ações para além das margens de Juazeiro e Petrolina. 

Foto: Grupo Salve Chico


POLUIÇÃO NO RIO

Além dos resíduos encontrados, outro problema é o esgoto jogado diretamente no rio, provocando proliferação de baronesas, vegetação com nome científico Eichhornia Crassipes. Plantas aquáticas que proliferam ao sinal de poluição proveniente do despejo de esgoto nos rios, são espécies de filtros que se alimentam dos dejetos lançados no ecossistema. O problema é que, quando a baronesa morre, tudo o que a planta absorveu e que ainda não foi jogado fora do manancial, será devolvido para a água do rio. 

Os condomínios privados, que ficam a margem do rio em Petrolina, e lançam seus esgotos sem tratamento praticamente 24 horas por dia, o que agrava o problema. Em Juazeiro, o esgoto é jogado na jusante do rio, que fica entre os bairros Horto Florestal e Tabuleiro. Já o esgoto de Petrolina é jogado a montante, em cima, e toda cidade sente o reflexo.


Foto: Grupo Salve Chico
Segundo o movimento Salve Chico, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Juazeiro está duplicando seu tratamento, mas a duplicação não será suficiente para tratar todo o esgoto doméstico.

Em nota enviada a reportagem, o engenheiro, coordenador de fiscalização e implantação das obras de ampliação do Sistema de Esgoto Sanitário (SES) Henrique Santiago, declarou que só é lançado no rio o esgoto após tratamento, que não tem reuso. Ele esclarece que, após ser finalizada a obra de duplicação do sistema de esgoto, haverá tratamento integral do esgoto coletado. Apenas 7% do esgoto doméstico não é submetido a tratamento. A previsão é que, ao final de 2017, não exista mais nenhum tipo de esgoto lançado dentro do rio.

Já em Petrolina, boa parte do esgoto lançado não recebe tratamento. Além disso, existe ainda uma média de 16 lançamentos clandestinos. Oficiosamente, a COMPESA diz que não trata esses esgotos porque são clandestinos.  “Se a COMPESA não trata porque não sabe de quem é, basta fechar essas saídas, que esses esgotos vão aflorar em algum lugar. Por outro lado se o poder público, a prefeitura e o Estado de Pernambuco quiserem tratar, é simples. Basta fazer uma estação elevatória, na margem, canalizar e levar para bacia do sistema de tratamento. O que não dá mais é para admitir que eles fiquem fingindo que esta tudo bem.” declarou André.

O Rio São Francisco passa por situações bem críticas, e uma das principais é o assoreamento nas margens do rio. Quem mergulha sabe que há alguns anos, era fácil encontrar lugares em que o rio tinha até 6 metros de profundidade. Hoje, a profundidade não chega a um metro e meio.

Foto: Grupo Salve Chico
O grupo Salve Chico alerta que os municípios devem ter a gestão controlada dos resíduos sólidos para evitar que sejam lançados no rio. A intenção é contribuir mesmo de forma indireta, e que estimulem seus filhos a uma mudança na questão ambiental. Quem desejar se unir ao movimento Salve Chico, é só acessar a página no Facebook, e se comunicar com alguns administradores. O grupo realiza reuniões periódicas. “O movimento não é só de mergulhadores, existem pessoas que vão por terra limpando as margens e cada voluntário é essencial para essa ação e não deixar o Velho Chico morrer”, afirma André.

A reportagem tentou entrou em contato com a COMPESA para esclarecer quais providências serão tomadas a respeito dos lançamentos de esgotos, tratados ou não no rio, mas não houve comunicado. 

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