Cansado de ver o rio
sofrer, o engenheiro ambiental André Loiola decidiu fazer algo. Enviou
mensagens para o grupo de amigos no whatsapp, incentivando-os a fazerem um
final de semana diferente: cair na água sem arpão e mergulhar com a intenção de
tirar do rio o lixo que sempre percebiam, ao invés de realizarem a pesca
esportiva.
Despretensiosamente, no dia 15 de outubro deste ano,
o grupo de aproximadamente 11 mergulhadores seguiu para o rio e iniciou os
mergulhos, próximo a captação de água do SAAE, situada atrás da Univasf em
direção ao ponto dos caiaques na Orla II em Juazeiro – BA. Já na primeira ação,
eles recolheram em torno de uma tonelada de lixo: garrafas pets, pneu,
plásticos, tecidos, tampa de fogão, tanque de combustível, porta de metal,
placa de carro, dentadura, banheira e, o mais impressionante de todos, o mictório.
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André Loiola
Foto: Ângela Monteclaro |
Depois das surpresas negativas,
o grupo decidiu planejar uma segunda ação para o dia 29 de outubro. Durante a
reunião, o grupo batizou as ações de Salve Chico e outros militantes se juntaram a causa, como o grupo Eco Rio. Nesse dia, 43 mergulhadores entraram
na água, e outros auxiliaram nos barcos de apoio e nos caiaques.
Em torno de 11 horas de mergulho, foi
retirado uma faixa de seis toneladas de lixo em um trecho bem curto, que não
ultrapassou de oito hectares, apenas na orla de Juazeiro. “As pessoas e o poder
público hoje são inertes a essa causa ambiental em favor do rio são Francisco”,
afirma André.
O movimento Salve Chico é sem fim
lucrativo, desenvolvido por voluntários e não tem nenhum tipo de financiamento
político ou empresarial. André conta que nenhum órgão público se manifestou até
o momento oferecendo ajuda, apoio ou incentivo. Todo apoio vem da sociedade
civil. O Rotary Clube de Juazeiro disponibilizou recursos para financiar o
projeto de monitoramento da água e três empresas de caiaques cederam equipamentos para o apoio.
Ao todo, foram realizadas até o
momento quatro ações. As próximas estão previstas apenas para julho ou agosto
do ano que vem, por causa da qualidade da água que impede o mergulho. “A água
está em um período turvo e leitoso”, explica André. Porém, já foram pensadas novas ações para além das margens de Juazeiro e Petrolina.
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Foto: Grupo Salve Chico |
POLUIÇÃO NO RIO
Além
dos resíduos encontrados, outro problema é o esgoto jogado diretamente no rio,
provocando proliferação de baronesas, vegetação com nome científico Eichhornia Crassipes. Plantas aquáticas que proliferam ao sinal de poluição proveniente do despejo de esgoto nos rios, são espécies de filtros que se alimentam dos dejetos lançados no ecossistema. O problema é que, quando a baronesa morre, tudo o que a planta absorveu e que ainda não foi jogado fora do manancial, será devolvido para a água do rio.
Os condomínios privados, que ficam a margem do rio em Petrolina, e lançam seus esgotos sem tratamento
praticamente 24 horas por dia, o que agrava o problema. Em Juazeiro, o esgoto é jogado na
jusante do rio, que fica entre os bairros Horto Florestal e Tabuleiro. Já o
esgoto de Petrolina é jogado a montante, em cima, e toda cidade sente o
reflexo.
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Foto: Grupo Salve Chico |
Segundo o movimento Salve Chico, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Juazeiro está duplicando seu tratamento, mas a duplicação não será
suficiente para tratar todo o esgoto doméstico.
Em nota enviada a reportagem, o engenheiro, coordenador de fiscalização e implantação das obras de ampliação do Sistema de
Esgoto Sanitário (SES) Henrique Santiago, declarou que só é lançado no rio o
esgoto após tratamento, que não tem reuso. Ele esclarece que, após ser finalizada a obra de
duplicação do sistema de esgoto, haverá tratamento integral do esgoto coletado. Apenas 7% do esgoto
doméstico não é submetido a tratamento. A previsão é que, ao final de 2017, não exista mais nenhum tipo de esgoto lançado dentro do rio.
Já em Petrolina, boa parte do
esgoto lançado não recebe tratamento. Além disso, existe ainda uma média de 16
lançamentos clandestinos. Oficiosamente, a COMPESA diz que não trata esses
esgotos porque são clandestinos. “Se a COMPESA não trata porque não sabe
de quem é, basta fechar essas saídas, que esses esgotos vão aflorar em algum
lugar. Por outro lado se o poder público, a prefeitura e o Estado de Pernambuco
quiserem tratar, é simples. Basta fazer uma estação elevatória, na margem,
canalizar e levar para bacia do sistema de tratamento. O que não dá mais é para
admitir que eles fiquem fingindo que esta tudo bem.” declarou André.
O Rio São Francisco passa por
situações bem críticas, e uma das principais é o assoreamento nas margens do
rio. Quem mergulha sabe que há alguns anos, era fácil encontrar lugares em que
o rio tinha até 6 metros de profundidade. Hoje, a profundidade não chega a um
metro e meio.
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Foto: Grupo Salve Chico |
O grupo Salve Chico alerta que os
municípios devem ter a gestão controlada dos resíduos sólidos para evitar que
sejam lançados no rio. A intenção é contribuir mesmo de forma indireta, e que
estimulem seus filhos a uma mudança na questão ambiental. Quem desejar se unir
ao movimento Salve Chico, é só acessar a página no Facebook, e se comunicar com
alguns administradores. O grupo realiza reuniões periódicas. “O movimento não é
só de mergulhadores, existem pessoas que vão por terra limpando as margens e
cada voluntário é essencial para essa ação e não deixar o Velho Chico morrer”,
afirma André.
A reportagem tentou entrou em
contato com a COMPESA para esclarecer quais providências serão tomadas a
respeito dos lançamentos de esgotos, tratados ou não no rio, mas não houve
comunicado.
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