Por: Giovanna Pordeus B. Monteiro e Robson Gomes
Lima
Sexta feira, 12 de agosto, dia de faxina na Cadeia Pública Feminina de
Petrolina, no Sertão Pernambucano. Mulheres dividem as tarefas entre limpar as
celas, salas de aula e o pátio, cozinhar, consertar objetos e ouvir rádio.
Entre os ritmos forró, brega e gospel, aproveitam para manter um clima leve.
Conversam, riem, contam histórias. Algumas aproveitam para cuidar da estética,
pintar os cabelos, fazer as unhas. Essa é uma das rotinas de Maria, Joana e das
demais presidiárias na cadeia pública.
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Foto: Robson Gomes Lima |
Aos 38 anos, Maria cumpre pena de cinco anos e seis meses, por tráfico
de drogas. Ela trabalhava nos projetos de irrigação de Petrolina e se envolveu
com o crime por necessidades financeiras. “Trabalhava e fazia um curso técnico
de Enfermagem, só que entrei ‘nessa’! Me arrependo, mas me resta apenas cumprir
a pena”.
De acordo com o Sistema Integrado de Informação Penitenciária (Infopen),
em 2014, 40 mil mulheres cumpriam pena nas cadeias brasileiras, dessas 68%
estão presas por se envolverem com o tráfico de drogas. Em Petrolina, das 64
mulheres presas, 78 % cumprem pena por tráfico.
Maria é mãe de cinco filhos, que, atualmente, moram com o pai. Com um
pouco de pesar na fala, afirma que a relação com os filhos mudou. “Posso vê-los
no segundo domingo de cada mês. Mas estar aqui me distanciou dos meus filhos,
pois não tem como ser uma presença constante e isso enfraquece o vínculo
familiar”.
Mas não é apenas o fato de estar longe da família que torna árduo o seu
cotidiano. “A vida aqui é bem difícil, pra quem é acostumada com a liberdade lá
fora, a se relacionar com as pessoas. Não que a gente não tenha relacionamentos
com outras aqui, mas é complicado, porque cada uma tem uma personalidade
diferente; a gente tem que saber lidar com cada situação e se adaptar.”,
explica.
Aos 31 anos, Joana está presa há 18 meses por causa do tráfico de
drogas, porte ilegal de armas e receptação. Também tinha família e esperança,
antes de ser presa. Cursava o segundo período do curso de Direito, mas, confessa
que fez uma “escolha errada”. “Se pudesse voltar atrás, faria tudo diferente”,
conta.
Tentou retomar os estudos, através de um curso universitário à
distância, regularmente autorizado pela direção do presídio. Ela iria custear o
próprio estudo, mas nenhum centro universitário ofertou o ensino. “Como não
tinha Direito nessa faculdade, eu até iria mudar o curso para Serviço Social,
mas como se indispuseram, não foi possível”, desabafa. Convicta, Joana afirma
que ainda existe preconceito das universidades em oferecer cursos para as
presidiárias.
A pena de Joana é de nove anos de prisão. Desses, seis meses foram
cumpridos na penitenciária de Verdejantes, em Pernambuco, e, há um ano, cumpre
a sentença na cadeia de Petrolina. Tem três filhos, que vivem com os avós
paternos em Serra Talhada, Pernambuco e, por opção própria, não recebe visitas.
Prefere que as despesas com deslocamento sejam usadas para benefício dos
filhos.
Embora aparentemente resignada com a prisão, Joana sente falta de tudo
que deixou “lá fora”: sua liberdade, seus filhos, sua casa, pois se considera
muito caseira. “O vínculo com minha família e meus filhos enfraqueceu, mas eu
não vou deixar de ser mãe deles nunca”.
A ressocialização como grande aliada
Apesar de estarem reclusas, as apenadas recebem a visita de instituições
religiosas, que vão até a cadeia oferecer tratamentos espirituais e sociais,
entre elas, a Pastoral Carcerária da Igreja Católica e a Assembleia de Deus.
Joana diz que não se considera evangélica, mas já fez parte dessa Igreja, e
acha muito importante e enriquecedor o trabalho religioso.
A Secretaria Executiva de Ressocialização oferece o ensino básico à
cadeia feminina, como sancionado na Lei Nº 12.433, de 29 de junho de 2011, que prevê a redução da pena para mulheres que optam por estudar. As
aulas acontecem à noite na escola Estadual Bento XVI que fica dentro do próprio
pavilhão. Maria faz parte dessa turma. Ao sair da cadeia, espera uma vida
diferente, sem os mesmos erros que a levaram para a prisão. Quer mudança. “A
gente erra, mas só permanece se quiser. É dada uma oportunidade e cada um
escolhe se quer abraçar ou quer soltar”.
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Foto: Robson Gomes Lima |
Maria acredita que vai ser difícil conseguir emprego quando cumprir a
pena. “Há muito preconceito na sociedade. Quando você passa por aqui e sai
depois, enfrenta várias barreiras para voltar a ter uma vida social normal, e
ter de volta um vínculo com a sociedade – porque o tráfico é um crime contra
ela e várias portas se fecham! Por isso muitas pessoas voltam para o crime! A
sociedade não dá oportunidade, nos veem com olhos diferentes”, afirma Maria,
que esclarece que pretende retomar o curso técnico, pois só falta um período a
ser finalizado.
Entre os trabalhos de ressocialização, estão afazeres domésticos, como
limpar a cadeia, cozinhar e lavar as roupas. Aquelas que cumprem a pena mais
longa são as que possuem prioridade para trabalhar. Elas recebem um salário de
aproximadamente R$ 400,00, oferecido pelo serviço.
Algumas Organizações não Governamentais oferecem cursos e atividades,
que possibilitam redução da pena, mas esse tipo de oportunidades é
insuficiente. “Os projetos de ressocialização são riquíssimos, mas não é sempre
que eles vêm até nós. A professora de uma universidade veio aqui e ministrou um
curso, mas não voltou para nos dar o certificado. Fala-se muito em
ressocialização, mas isso é só na teoria, porque na prática é muito diferente.
As pessoas ainda têm muito preconceito”, relata Joana.
Nota: Os repórteres visitaram a cadeia publica, entrevistaram mulheres que
cumprem pena por tráfico de drogas e decidiram usar nome fictício para
preservar a identidade das fontes.
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