terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Uma parada no ponto principal: terminal de ônibus de Juazeiro

Pablo Luan


Sol de novembro, sensação térmica de 33ºc. No centro de Juazeiro, Bahia, o famoso “gaiolão” divide espaço com o camelódromo 2 de julho. Em uma das paredes, a placa de inauguração diz: "Terminal de Transportes Urbanos Antônio de Albuquerque Borborema". O nome é em homenagem ao pequeno empresário pioneiro do comércio de autopeças e derivados na cidade. É do terminal municipal de Juazeiro que todos os dias saem ônibus para os bairros, interior ou para a cidade vizinha, Petrolina-PE.  O terminal sempre foi assim, é essa agonia e correria que você está vendo, nunca muda”, conta o fiscal que não quis se identificar, enquanto organizava a chegada de mais um ônibus dentro do gaiolão.

Em um dos boxes de lanches e sucos, estava Divina Lopes de Souza, uma senhora que trabalha no terminal há 21 anos. Ela nunca se ausentou, nem por um dia daquele trabalho. Por muitos anos, a venda no box foi o principal sustento da família, mas hoje todos os filhos já são independentes. Mesmo depois de tantos anos, Divina pretende continuar trabalhando lá até conseguir a aposentadoria.
Já Bruna Lima tem 16 anos, mora no bairro Santo Antônio e estuda no colégio estadual Luiz Eduardo Magalhães, que fica no bairro João XXIII e, anteriormente, estudava no turno da tarde. Segundo ela, nesse período há bastante movimentação no terminal e os ônibus estão sempre lotados. Bruna mudou de turno e faz o mesmo percurso à noite. Todos os dias, ela pega o ônibus às 18h40, e receia a volta, no horário de 21h30, quando existe pouco movimento e o ponto final geralmente está deserto.                                                   
O terminal também serve como local de almoço para comerciantes e até mesmo para os passageiros. Naquele espaço, são oferecidos mesas e cadeiras onde as pessoas podem se alimentar enquanto seu ônibus não chega. “Quando não dá tempo de almoçar, por exemplo, e você está aqui esperando, já faz um lanche. É bom também quando você sai de casa apressado e não tem tempo pra comer.”  
A música da barraca de um rapaz que vende CDs e DVDs acompanha os vendedores dos carrinhos de água de coco, picolés, sorvetes, bomboniere, e outros. Seu Luis Gomes Bonfim é um deles,  com um chapéu para proteção do sol e próximo ao seu carrinho amarelo, trabalha há 12 anos vendendo água de coco no terminal. Conhecido como baixinho, sempre teve uma boa convivência com os colegas das barracas vizinhas. Ele conta que o trabalho auxilia a renda familiar e serve como um ganho a mais, pois somente a venda de água de coco não é suficiente para o sustento de toda a família Pagar energia, água e fazer compra não dá de jeito nenhum. Porque tem dias que vende menos, tem dias que vende mais,” diz o comerciante.






















Morais é outro vendedor que trabalha no terminal. Na sua barraca, vende-se frutas e verduras. Enquanto conversava com ele, duas clientes chegaram para perguntar o preço da "touca de tomate". Durante as vendas, ele me respondeu: Já tem cinco anos que eu trabalho aqui, e gosto do meu trabalho.
Do outro lado do terminal, os passageiros aguardam os ônibus para Itamotinga, Rodeadouro, Mandacaru e outros. É daquele lado que funciona também a feirinha, um local em que se vende de tudo um pouco: doces, verduras, pães, flores, acessórios e muito mais. Zélia esperava o ônibus do Rodeadouro, sentada em um banco de madeira próximo à barraca de uma amiga, e conta que a feirinha funciona como fonte de renda, pois as famílias podem tirar diariamente o sustendo dali. “Já que o terminal é um lugar movimentado, a pessoa vem esperar o ônibus, já pode fazer sua feirinha, e levar pra casa", declara.


No vai e vem de ônibus e no meio de toda agitação e correria, transitam muitas histórias de vida. Gente que vai, que volta, que sai para trabalhar. Gente a caminho da escola, faculdade, a passeio e até mesmo gente que vem e fica para trabalhar. Durante todo o dia, passam e ficam ali pessoas que batalham. Alguns querem passar o resto da vida tirando dali seu sustento, outros são como dona Divina que só está esperando se aposentar para fechar o seu ponto de vez. Enquanto ela guardava o material do balcão, finalizando mais um dia de trabalho, eu a observava e ela foi logo se despedindo: “Menino, tá bom que eu vou me embora.”  



 Pablo Luan é estudante de Jornalismo em Multimeios da UNEB. 

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