Chego na orla de Petrolina pronta para esperar. Durante todo o tempo, principalmente os horários de pico das barquinhas, muitas pessoas param na barraca do Pequeno para comprar doces, picolés ou para aproveitar da sombra e da sua companhia. Espero um momento em que não haja ninguém para poder me aproximar, o que foi praticamente impossível.
Um jovem rapaz com farda do curso de fisioterapia se aproxima de Pequeno, e com intimidade se despede, pois entraria de férias e não precisaria
pegar mais barquinha até o próximo ano. Assim como ele, uma senhora, um
barqueiro, duas jovens e tantas outras pessoas param, compram, conversam e
riem com Pequeno durante o tempo em que ele trabalha.
Desde o momento em que me aproximei, ele foi muito
simpático e começou a puxar assunto. Quando proponho entrevistá-lo em outro dia,
ele logo responde: “Por que não hoje? Você não pode fazer logo, agora?”
Essa pergunta demonstra como a atitude prática diante da
vida é um traço forte da sua personalidade. Antes mesmo de iniciar a entrevista,
ele já me apresentou a sua família, como acredito que faria com qualquer pessoa
que chegasse em sua barraca, mesmo sem intimidade.
Com o celular da filha, ele me mostrou a foto dela com o
companheiro e o filho. Pequeno falou sobre a “burrada” que ela fez em ter um
filho e quando tentei desconversar sobre o netinho ele perguntou minha idade. Respondi,
e logo veio o questionamento: “Aí, se você tivesse tido um filho com 17 anos
não estaria toda atrasada nos estudos? É assim que ela tá. Devia ter feito como
eu, que, aos 22 anos, ainda tava pensando em me casar.”
Divorciado, Pequeno tem três filhos. Confessa que não
sabe se os filhos se orgulham
dele, mas não deixa faltar nada em casa. “Faço o que posso.” Mais uma vez, a atitude
pragmática diante de possíveis conflitos demonstra ser a mais correta, a que não
lhe traz tristeza.
Sempre com respostas curtas, ele me diz que se chama
Pedro Erivaldo, mas que ninguém o conhece por esse nome. É filho de cearenses, nasceu em Petrolina mas foi criado em Juazeiro do Norte. Vendia doces na rua quando seu irmão lhe falou do “ponto comercial”
à beira do Velho Chico.
Desde então, conquistou o respeito e a amizade de todos os barqueiros e pessoas que utilizam diariamente do transporte característico do rio São Francisco e isso é notável nas brincadeiras, troca de dinheiro - e de palavrões - que ocorrem a todo momento entre os condutores e Pequeno.
Pergunto se ele gosta do seu trabalho e ele diz que sim, mas quando questiono se mudaria de atividade, mais uma vez seu pragmatismo se mostra: "mudaria para um trabalho mais leve". Morador do Caminho do Sul, bairro de petrolina, a sua jornada começa todos os dias 9h30 da manhã e acaba 18h. Faça chuva ou sol, ele está sempre à beira do rio, distribuindo bom humor e simpatia.
“Não podemos misturar o joio e o trigo. Se você tem algum
problema em casa, não pode levar pra rua, pro seu trabalho.” Assim, Pequeno se
mostra mais um brasileiro, que, mesmo diante de adversidades e da lida diária,
não perde o bom humor e, com seu sorriso, sempre conquista novas amizades e clientes.
A diferença, segundo ele, além de sua característica simpatia é só a vista do seu “escritório”.
Mônica Odilia é estudante de Jornalismo em Multimeios, na UNEB.
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