Por Jhonatas Nilson
Nascido
em Bagdá, no Iraque, Alhassan Mohammed Fahil tinha 19 anos quando soube que
precisaria mudar de país para ingressar em uma vida completamente nova. Filho
de um engenheiro mecânico e de uma professora de física, ele sabia que as
mudanças não iriam ser fáceis a partir do momento em que entrasse no avião rumo
ao desconhecido.
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(Arquivo Pessoal) |
A
realidade era desoladora em Bagdá. O Estado Islâmico parecia assumir cada vez
mais poder, dominando aos poucos cada parte da cidade e do país. Por isso, em
2014, os pais de Alhassan decidiram que já não queriam o filho exposto em uma
área onde os conflitos cresciam dia após dia, fazendo com que eles tomassem uma
das decisões mais difíceis das suas vidas: mandá-lo para viver sozinho em
Wahan, na China.
- No
início, algumas cidades aceitaram o Estado Islâmico. Todo mundo pensou que eles
iriam mudar o nosso país, mas logo começaram a criar várias regras e a matar
todos que não concordavam com eles. Agora, apenas 30% de Bagdá é segura para se
viver.
Nova Cultura
Hoje, aos 21 anos, ele continua morando sozinho no mesmo pequeno apartamento desde
que chegou. Com certo ar nostálgico, revela que sente muitas saudades da comida
de sua mãe e que ainda não conseguiu se adaptar ao cardápio do novo país. Sendo um muçulmano praticante, tem certas
dificuldades com o uso excessivo da carne de porco nos pratos chineses, pois é
proibida a degustação da carne suína em sua religião.
No
entanto, apesar das diferenças culturais e dos problemas culinários, ele não
sentiu nenhum problema em criar amizades em seu novo lar. Todos aparentam ser
muito respeitosos e não costumam esboçar nenhum preconceito em relação ao fato
de ele ser estrangeiro ou por ser muçulmano. Mais do que apenas novos amigos,
as pessoas que ele conheceu nos últimos dois anos acabaram por se tornar uma
espécie de nova família para ele, permitindo que a experiência de viver em um
novo país não se tornasse algo tão difícil de superar. No início, tudo era muito estranho e nada o fazia feliz, mas logo as coisas foram mudando e se assentando em sua cabeça, e o sentimento de aceitação surgiu com o tempo.
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No
próximo verão, Alhassan irá voltar para Bagdá depois de um tempo longe da
família. Mas a visita não irá durar muito, e ele ficará apenas por algumas
poucas semanas em sua cidade natal. Quando estiver lá, não poderá sair de
casa. Em tom decepcionado, comenta que as forças armadas do Iraque estão
explodindo boa parte das cidades para expulsar o Estado Islâmico do país. A
ordem do governo é a de que ninguém saia de casa e que todos que estão em
cidades dominadas procurem áreas seguras o mais rápido possível.
Seus
amigos iraquianos continuam mandando notícias e os fatos não são nada animadores.
As fronteiras das cidades estão dominadas por membros do Estado Islâmico e é
possível ver bandeiras e símbolos da organização jihadista islamita por todos
os lados.
- Todas
as igrejas e áreas não muçulmanas estão sendo destruídas pelo Estado Islâmico e
as meninas virgens que têm mais de dezoito anos são sequestradas para serem
usadas por eles.
E
é dessa forma que Alhassan revela que não sente nenhuma vontade de voltar a
viver no Iraque. Dividindo o seu tempo entre a faculdade de farmácia e trabalhando
ocasionalmente como modelo fotográfico, já possui planos de trazer o seu irmão
mais novo de dezesseis anos o mais rápido possível para viver com ele. Com
orgulho, diz que pretende cuidar dele e custear todas as suas necessidades.
Quando
terminamos de conversar, Alhassan faz questão de finalizar com uma frase
marcante e que talvez represente o desejo de muitos dos habitantes iraquianos:
- Aqui onde estou eu sou livre.
A
liberdade, apesar de tudo, nunca foi tão doce.
Jhonatas Nilson é estudante de Jornalismo em Multimeios.
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