domingo, 9 de abril de 2017

Jovens talentos do esporte de Juazeiro

Por Jaislane Ribeiro

O ano de 2016 foi considerado ‘ano olímpico’ e o Brasil foi país sede dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Ao longo das duas competições, jovens habilidosos foram revelados para o mundo. Muito desses talentos enfrentaram dificuldades para chegarem aos Jogos e conseguirem uma ‘valorização’, como Isaquias Queiroz, atleta olímpico nas provas de canoagem, e Petrucio Ferreira, paralímpico que se destacou nas provas de atletismo (corrida), ganhando três medalhas paralímpicas, sendo uma delas de ouro. 

Na cidade de Juazeiro, há muitas crianças e adolescentes com talento para o esporte, que desejam fazer parte de uma olimpíada.  


Aos 13 anos, Marília Maciel, estuda no colégio municipal Paulo VI e prática o atletismo na modalidade salto em distância. Conheceu a pratica através de um ex- professor que faleceu.  A sua primeira competição foi em 2013 nos jogos escolares da cidade. No ano seguinte, participou novamente do torneio. Em 2015, se classificou para a fase regional em Simões Filho e para a etapa nacional em Fortaleza.

Em 2016, Marília foi para a etapa nacional dos Jogos Escolares da juventude, em João Pessoa. Sua rotina diária é cansativa. Pela manhã, estuda. Treina à tarde quase todos os dias, exceto a sexta. Os treinamentos acontecem no colégio e, no final de semana, pratica o vôlei. Apesar das conquistas, a jovem atleta avalia que tem muitas dificuldades, “Falta mais apoio da escola, da prefeitura, equipamentos e lugar adequado”, afirma. Mesmo assim, sonha em continuar no esporte e um dia representar o país em uma Olimpíada.

Um menino que se ‘redescobriu’ no atletismo

Felipe Rodrigues tem 14 anos e estuda na escola Paulo VI, onde pratica atletismo (corrida) 55 metros. Conheceu a modalidade através do treinador Ramon Gabriel. Antes jogava futebol, mas o professor chamou para conhecer o atletismo. “Aí eu falei professor eu não sei correr. E ele falou, vamos tentar. E eu falei está certo, eu corri e ele viu potencial. Se não fosse o professor, não teria encontrado o atletismo”, disse Felipe. Para ele, não foi uma tarefa fácil trocar o esporte que amava por um que não conhecia.


Ele iniciou com o atletismo em 2016, participou dos jogos escolares da cidade, se classificou para a fase regional e a etapa nacional. Felipe também encontra os mesmos problemas estruturais relatados por Marília. Sua rotina é treinar todos os dias de segunda a sexta, ter uma boa alimentação e não pode praticar outros esportes para não ter lesões físicas. Estuda pela manhã, faz exercícios à tarde e descansa à noite. A rotina é árdua, mas ele tem disciplina.

 A garota dos discos


Uma menina bem determinada. É assim que se define Ana Luiza Monteiro, que estuda o oitavo ano do Colégio Paulo VI. Ela tem 13 anos e pratica lançamento de disco. Foi em 2015 que o professor e treinador Ramon, apresentou o arremesso. A princípio, conheceu o arremesso de peso e depois o de disco. “Eu lancei o disco e gostei e pedi para trocar porque não tinha nenhuma menina competindo, só tinha um menino”, disse.

Em 2016, conquistou o segundo lugar nos jogos escolares da cidade. Com o resultado, foi para a etapa regional em Simões Filho, classificando para competir a etapa nacional dos jogos da juventude. Durante a semana, Ana sai de casa cedo para ir à aula. Quando termina, volta para sua residência e depois vai novamente para escola, onde realiza os treinamentos do atletismo. No termino do treino, ela ainda faz futsal em outro local. É uma rotina intensa, mas faz com muito carinho e amor. 


Para Ana, a escola não valoriza o atletismo, só outras modalidades como Futsal e Vôlei. Ela relata que sofre preconceito por parte de seus familiares que acreditam que o arremesso de disco é um esporte para homens. “Minha família por parte de pai não gosta muito, dizem que o futsal e o atletismo não são para mulheres, que o lugar de mulher é dentro de casa. No futsal, é mais forte o preconceito. Eu escuto esses comentários que doem muito”, disse. Ana pretende seguir no esporte, depois que acabar os estudos e ser uma atleta profissional.

O observador de talentos


Ramon simplesmente observa as crianças e adolescentes no dia a dia. Foi assim que descobriu os talentos da escola. Ramon Gabriel Pereira é professor de Educação Física do colégio Paulo VI. Aos 25 anos, é treinador e incentivador dos pequenos atletas de Juazeiro. O colégio iniciou no ano de 2015 o projeto de esporte voltado para o atletismo, onde abrange todas as categorias pré mirim, mirim e o juvenil e com o trabalho a logo médio prazo. Já existem resultados satisfatórios e inéditos para a escola. Quatro atletas da equipe se classificaram para a etapa nacional dos Jogos Escolares da Juventude- JEG’s em João Pessoa.

Os estudantes Marília, Felipe, Ana Luisa e Thaísa competiram na categoria B com a faixa etária de 12 a 14 anos.  Apesar da conquista, Ramon afirma que existe dificuldades. “A questão maior é o espaço físico do colégio, temos que adaptar muito os nossos treinos. Pouquíssimas vezes a gente treina em outro lugar. Perto da competição nacional, eles treinam na academia, porque eles ganharam uma bolsa lá, foi um patrocínio de um amigo e eles fazem musculação grátis,” disse o jovem treinador.

Em relação aos custos de competições, esclareceu que, quando os jogos acontecem na cidade, a escola ajuda no transporte e lanche. Mas ele costuma pagar despesas e conta com ajuda dos amigos e familiares. “Quando há competições regionais é da responsabilidade da confederação de atletismo da Bahia e a nacional também, a diferença é que nessa é a organização nacional quem custeia os gastos dos atletas, mas os custos do treinador não,” afirma.

Uma herança Familiar


Alana Maíra tem 16 anos e estuda na escola estadual Heleno Celestino. É judoca e vem de uma família de judocas. Seu avô Paulo Afonso é um dos grandes percussores da modalidade na região. Aos oito anos de idade, Alana participou de sua primeira competição. Ela é campeã nacional pela federação SESC feminino de judô 2014 na categoria pesado. Atualmente, é campeã brasileira da CVLG na categoria peso médio 70 kg e ocupa o segundo lugar do ranking baiano na federação de judô da Bahia. Além dos títulos nacionais, a atleta coleciona há três anos consecutivos a medalha de ouro dos jogos escolares da cidade. Esse ano se classificou para a etapa regional dos jogos em Simões Filho.

Seu dia a dia é cansativo, mas não se incomoda porque faz por amor. Estuda em tempo integral, acorda às 5h30 e faz exercícios leves. Às 7h da manhã, segue para escola retornando às 16h. Descansa rapidamente e segue para academia desenvolvendo atividades de musculação. E depois para a academia de Judô isso de segunda a quinta. Os treinos são interrompidos na sexta, por ser adventista. Já no final de semana realiza uma corrida de leve, e com cuidado na alimentação.

Alana é beneficiária da bolsa atleta desde os 14 anos. O dinheiro ajuda os custos das competições. Mas, apesar do auxílio, ainda há dificuldades, pois os equipamentos e roupas da modalidade não são tão acessíveis. Ela recebe todo o apoio da sua família, o tio ajuda na técnica, a mãe na alimentação e o pai nos treinos.  Assim, todos ao seu redor ajudam de uma forma.

A atleta falou sobre a participação das mulheres no judô e os preconceitos que ainda existem “Eu acho incrível, eu fico muito triste quando amigas minhas, e colegas de treino chegam para mim e diz que vai sair porque os pais acham que o esporte e para os homens. A participação da mulher no esporte é muito importante por que todas nos temos capacidade”, disse.

Alana falou dos seus planos para o futuro. “Eu sonho em representar o Brasil em 2020, eu tenho uma meta de chegar até lá. Desde 2013 eu sonho com as olimpíadas”, afirma, com determinação.

Jaislane Ribeiro é estudante de Jornalismo em Multimeios,
Matéria realizada em novembro de 2016. 

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