segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Estudantes de zona rural buscam formação acadêmica

Ingryd Hayara

A formação superior tem se tornado uma realidade para um maior número de pessoas, com a expansão no setor público e privado do ensino superior.  De acordo com o último Censo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), realizado em 2015, mais de 7,8 milhões de estudantes estão matriculados no ensino superior. São 3,8 milhões de matrículas a mais se comparadas ao ano de 2003, representando aumento de 96,5%. 

Com a expansão da educação superior aliado a políticas públicas voltadas para educação, a formação acadêmica se tornou acessível para a população proveniente das zonas rurais que ocupa os espaços acadêmicos, trazendo novos conhecimentos provenientes do saber popular.

Foto: Ingryd Hayara


Filha de agricultores, Tatiane é a mais velha entre quatro irmãos. Desde cedo, sempre gostou de estar em contato com a terra, hábito que adquiriu com a convivência dos avós. Aos 28 anos, Tatiane Barboza iniciou o curso técnico em Agroecologia há nove meses, no Centro de Educação Profissional do Sertão do São Francisco (CETEP), em Juazeiro – BA, e deu continuidade ao sonho de estudar.

Tatiana terminou o ensino médio em 2009 e, apenas nesse ano, teve a oportunidade de dar continuidade à vida acadêmica. “Na cidade onde eu morava não tinha oportunidades para os jovens se profissionalizar, principalmente na área que eu gosto de trabalhando, então tive a oportunidade estar aqui em Juazeiro”, explica. 

Ela relembra que nunca tinha ouvido o significado de agroecologia antes do primeiro dia de aula. “O engraçado é que a gente sempre fez isso na comunidade sem saber que era agroecologia”, conta, sorridente.

Apesar de gostar do curso e da nova morada, Tatiane ainda mantém fortes vínculos com a Associação Fonte de Vida, comunidade que desenvolve a agricultura familiar na zonal rural de Sobradinho – BA. Sobre o futuro, ela planeja voltar para a Associação e ajudar na conservação do modo de cultivo tradicional. “Lá, na minha comunidade quero ajudar com o que eu adquiri, o meu conhecimento. Então pra comunidade vai ser também uma partilha. Eu vou, de certa forma, compartilhar com os agricultores aquilo que vivi no curso”, afirma.

Apesar de querer voltar para a comunidade, Tatiane almeja continuar os estudos “Pretendo buscar mais, estudar mais, para estar sempre adquirindo conhecimento e compartilhar por lá”.

Foto: Arquivo Pessoal


Aos 26 anos, Tiago Pereira da Costa concilia o mestrado em Extensão Rural enquanto trabalha como coordenador institucional do Instituto Rural da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), em Juazeiro - BA. Apesar de ter saído de casa há 14 anos, mantém até hoje vínculos com sua comunidade de origem Piçarrão, distrito de Sento Sé, no norte da Bahia,

Tiago saiu cedo da casa dos pais, na Comunidade Fazenda Paraíba, em busca de um ensino fundamental promissor. Aos 12 anos, foi morar em Sobradinho – BA, onde fez parte da Escola Família Agrícola Sobradinho (EFAS), instituição que mantém vínculo até hoje. Quando relembra o episódio, confessa que, na época, não queria sair da comunidade “Foi sempre minha mãe que me incentivou”.

Após ter concluído o ensino técnico em Agropecuária e a graduação em Gestão Ambiental, Tiago revela que sempre foi curioso, qualidade que o fez querer continuar os estudos mesmo distante da família. Apesar da distância, ele conta que mantém contato com o local onde nasceu e, através do trabalho, sempre propõe projetos que abrangem as pessoas da região.



Foto: Arquivo Pessoal

Judenilton Oliveira dos Santos Souza, mais conhecido como Nilton, mora em Juazeiro há quatro anos e três meses, como gosta de ressaltar. A oportunidade de sair do assentamento Nova Vida, localizado no interior de Cansanção – BA, para ingressar no ensino técnico surgiu a partir do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, que visa propor projetos educacionais voltados para as regiões de assentamento agrário.

Apesar do interesse em continuar a vida acadêmica, Nilton não tinha perspectivas de sair do assentamento em busca do ensino superior. “Compreendendo os fatores sociais que estava inserido, dificilmente conseguiria fazer uma faculdade, pois minha família é de origem rural, agricultores, com baixa renda e com essas condições não teria muita chance de cursar o ensino superior”, comenta.

Hoje, aos 26 anos, Nilton concluiu o curso técnico em Agropecuária Sustentável e, no momento, estuda Engenharia Agronômica na Universidade do Estado da Bahia (UNEB). O ensino técnico o fez “abrir os olhos” para cursar o ensino superior. A partir da sua permanência na universidade, outros jovens do assentamento perceberam que é possível sair da zona rural para alcançar a formação acadêmica.

Após concluir o ensino superior, Judenilton pretende voltar para o assentamento Nova Vida para desenvolver projetos voltados para a geração de renda da comunidade. Apesar disso, ele revela que o seu principal foco é colaborar com a população do campo que, geralmente, está à margem da sociedade. “Entendo que, desde que eu possa trabalhar com pessoas do campo, independente da região, estarei satisfeito”.


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