segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Templo do futebol juazeirense

Por Jaislane Ribeiro


O estádio Adauto Moraes, localizado no centro de Juazeiro, traz muitas memórias sobre o futebol amador e profissional da cidade. Antes, o esporte era desenvolvido em campos de várzeas como o Orto, Porco, Adelhão, Nossa Senhora Maria da Penha, Rua Perpétua, Adalberto Matos, Piranga. Os campeonatos se concentravam no bairro Alagadiço, no campo do Veneza onde atualmente é o fórum do município. Depois, os jogos foram transferidos para a praça Pereira Primo, atual local do estádio.    
Os atletas eram talentosos com nível técnico considerado elevado. Crianças, jovens e, até mesmo pessoas com mais idade, desejavam jogar nas equipes amadoras. Vários esportistas foram revelados nesses espaços como Nunes, Celso Maravilha, Garrichinha, Lulinha, Marcelinho, Petros, Daniel Alves e entre muitos. Algumas equipes de futebol amador até hoje continuam como Olaria, Veneza, XV de Novembro, América, Carranca, Juazeiro e o Colonial. Todos esses times jogam anualmente em campeonato no Adauto Moraes, com partidas realizadas nas terças e sexta às 20h.



O estádio foi inaugurado no dia 2 de abril de 1940, na gestão do prefeito Alfredo Viana, e recebeu o nome de Adauto Moraes, por ser filho de ilustre da cidade e um amante do futebol. Em 1930, ele fundou o time amador ‘Juazeiro Esporte Clube’, onde se dedicou até o fim da sua vida a esse projeto. Para o professor Gentil Luís, Adauto amava esse esporte, e se doava ao que gostava de fazer. Ele se entregava por inteiro ao Juazeiro Esporte Clube. “Para a gente ter uma ideia do seu grande envolvimento, ele vendia rifas, realizava bingos, sorteios, doava seu salário para fazer qualquer negócio em nome do seu clube e em benefícios de atletas”, afirma.          

Ao longo do tempo, foram sendo acrescentadas outras infraestruturas como o alambrado, iluminação no início dos anos 1970. As partidas aconteciam à tarde porque não havia luz e no escuro não era possível jogar. Já o primeiro gramado foi implementado em 1972, antes era chão batido, de areia e mesmo assim recebeu times profissionais, como por exemplo, o Bahia. Em 2000, aumentou o estádio e os vestiários.           




No inicio de 2016, outra grande obra foi realizada no estádio como a colocação de um novo gramado, construção de lanchonetes e bares, modulo para policias, vestiários para os atletas e árbitros, climatização e Internet nas cabines de imprensa, pinturas nas arquibancadas e entre outros. Aproximadamente, foram gastos R$ 800 mil.       
  
O Adauto Moraes não foi somente palco para partidas de futebol, também recebeu hipismo, atletismo e eventos como festa do melão, primeira Feira Nacional da Agricultura Irrigada (FENAGRI) e cultos evangélicos. Muitos desses momentos estão guardados na lembrança das pessoas que frequentam o estádio.

Memórias de um radialista esportivo

Radialista há 27 anos, Charles Gray já vivenciou muitas histórias no esporte local. Enciclopédia do futebol juazeirense, recorda datas, atletas, números, campeonatos e tantos outros acontecimentos. O envolvimento com o esporte começou ainda criança e sonhava em ingressar no rádio. Em 1990, chegou ao veículo de comunicação como repórter, depois passou a narrar partidas e, atualmente, coordena uma equipe esportista. Praticamente, todo o dia está no estádio, realizando coberturas.

- Moro a 100 metros do estádio Adauto Moraes, a minha infância foi toda lá. Eu realizava campeonato de futebol em frente ao estádio e também na parte interna no antigo campo de Madureira, que hoje é o mercado Municipal o segundo mercado de Juazeiro.             
                                                                                                      
O radialista lembra das partidas entre dois times amadores da cidade: Veneza e Olaria, o chamado clássico da alegria. O estádio Adauto Moraes ficava lotado,crianças, jovens, mulheres, e todo tipo de público acompanhavam com grande fervor e emoção essas partidas. Nessa época, ainda não tinha alambrado e os torcedores ficam em pé ao redor do campo.         
 
Entre tantas memórias de Charles Gray, a vitória do Olaria marcou sua vida. O acontecimento foi no estádio, no ano de 1979.    
                                             
- Todo mundo queria ser mascote do Olaria e gandula do estádio. Em 1978, fui gandula e o mascote do olaria. Mas como tinha muita gente, eu fui ser mascote de outro time o carranca. Lembro que, em uma partida entre as equipes amadores Carranca X Olaria eu sendo mascote do Carranca. O Olaria fez um gol. Eu e um companheiro, Marcos Bastos, que também é radialista, estávamos no banco do Carranca e vibramos. Aí, o pessoal botou a gente para sair do estádio.

Memórias de um torcedor 

O professor Gentil Luís Lisboa acompanha o futebol amador desde a década de 70. Seu pai era comerciante e dono de uma sapataria e lanchonete na rua da Apolo, trabalhava com ele o senhor Paderinho, que tinha filhos jogadores. Nesse convívio de ver seu pai fazendo chuteiras foi se envolvendo com o futebol e com outros esportes.       

-Não conheci Adauto Moraes, mas meu pai sim. O que eu sei é que ele foi um homem envolvido como o futebol e que contribuiu muito para essa prática. Ele pegava o salário dele comprava chuteiras, materiais esportivos para seu time, time que o amava com isso ele enaltecia a sua equipe.                                                                                              
Gentil era levado ao estádio pelo seu pai e lá presenciou muitos momentos, entre eles o clássico entre Olaria e Veneza. E testemunhou um fato bem inusitado para aquela época.  
       
- Era um sol escaldante, mas o estádio lotava vários jogos memoráveis, muitos atletas de qualidade, torcidas aguerridas, charangas a rivalidade máxima do nosso futebol era Olaria, e Veneza, do lado esquerdo do Adauto ficavam os torcedores do Veneza e do lado direito era o Olaria, as torcidas organizadas cantava seus hinos e marchinhas, era uma festa. Quando o jogo terminava todo mundo ia para suas casas. O clima de paz naquela época reinava, não era como hoje onde infelizmente a violência predomina em alguns clássicos do futebol.      
               
Ele se recorda também de partidas clássicas do Olaria. 
                                                        
- Teve uma substituição de um jogador do Olaria, que saiu para entrar outro. Zé Bispo entrou e foi para a linha cobrar o córnio, Zé cobrou e a bola fez um efeito e entrou. Foi o chamado gol olímpico, o atleta fez o gol no primeiro momento que entrou em campo.       
             
Nos anos 90, Gentil ingressou na Liga Desportista Juazeirense (LDV), ocupando vários cargos como vice presidente, diretor de futebol, superintendente das divisões de base do Juazeiro, fez parte da comissão técnica. Sua colaboração foi vasta e, atualmente, faz parte da comissão da junta disciplinar do campeonato.


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